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terça-feira, 19 de abril de 2011

Gary Kurtz fala sobre a devoção e o sucesso de Star Wars

Gary Kurtz, o produtor de Star Wars, escreveu um artigo intitulado "As pessoas queriam viver na tela" para o blog "The Guardian's Film Blog", onde comenta sobre a devoção dos fãs e sobre o sucesso de Star Wars.
E o CJPR traz o artigo traduzido em sua íntegra para vocês!

"Houve um tempo - acredite ou não - quando eu costumava dizer que Star Wars é apenas um filme, e que as pessoas que estão obcecadas com isso realmente deveriam seguir em frente. Saiam do cinema e tentem esquecê-la - é só um filme.

Claro, muita gente não fez isso. O primeiro filme e seus sucessores cativaram uma geração. A  energia arquetípica, que fez um monte de jovens querem realmente viver no ambiente criado na tela, era único na época.

Quando George Lucas e eu começamos a planejar o primeiro filme, não tínhamos idéia do que viria a ser, o tipo de devoção atrairia. Nós planejamos fazer este filme que captura o sentimento dos seriados de Flash Gordon dos anos 1930, que tínhamos visto na TV no início dos anos 60. Quando começou  a se tornar este grande fenômeno onde as pessoas vão ao teatro para vê-lo seis vezes em uma semana, nós, num primeiro momento, estávamos um pouco confusos. A  transição da audiência sci-fi para os cinéfilos dos grandes filmes foi verdadeiramente surpreendente.


Rapidamente percebemos que tínhamos encontrado um nicho. Star Wars chegou nos cinemas, quando várias séries de ficção-científica eram sombrias e pós-apocalípticas. Não foi um filme  concebido para se excitar a alma com a perspectiva do espaço exterior ser como a fronteira final, desde Planeta Proibido, em 1955 - isso foi apenas alguns anos antes do primeiro filme de Star Trek, lembra.

Sabíamos que havia fãs hardcore de sci-fi que encheriam cinemas por algumas semanas, mas depois nós pensamos que iria se acalmar e talvez pagar o investimento da FOX. Em vez disso, apenas passou e passou, ficando em alguns cinemas por nove meses, o que é quase inédito hoje em dia. Se você tentasse lançar Harry Potter em 50 cinemas e expandir ao longo de oito semanas, eles pensariam que você era louco. Cerca de 80% da bilheteria é feita nas duas primeiras semanas – o resto é por conta do DVD.

Então, o que foi que fez Star Wars tão diferente, tão especial? Eu posso lhe dar um pequeno exemplo do tipo de cuidado que tivemos ao montar o filme.

Enquanto George ainda estava trabalhando no roteiro do primeiro filme, nós decidimos que o som seria uma parte importante de Star Wars. Então eu fui até o departamento de cinema da USC, onde George e eu estudamos cinema, e pedi ao diretor da cadeira de som se ele tinha algum aluno formando que fosse particularmente criativo.

Ele me apresentou Ben Burtt, que se tornou o nosso designer de som. Ben trabalhou por mais de um ano coletando sons de todos os tipos de fontes incomuns, e nós fazíamos reuniões para ouvir e conversar sobre eles. Quando terminamos de filmar, ele tinha uma coleção enorme de sons, que usamos para tudo, desde os bleeps do R2-D2 aos efeitos de laser criados quando uma nave atira na outra.

Queríamos que Star Wars fosse diferente, por isso não queríamos usar os sons "sci-fi" que já existiam. Ben nos deu intrincadas combinações de diferentes sons que fizeram o filme se destacar.

Esse foi basicamente meu papel em Star Wars - suavizar o caminho para George continuar com seu trabalho: em outras palavras, tomando conta dos atores e assumindo tudo o que precisava ser feito durante a produção. Todos os filmes têm micro-decisões a serem tomadas que podem ser irritantes para o cineasta quando ele está tentando olhar para o todo. George e eu trabalhamos muito bem assim, e eu acho que foi uma boa parceria que desempenhou o seu papel no enorme sucesso do filme.

Star Wars poderia acontecer de novo hoje? É difícil dizer porque as coisas estavam tão diferentes naquela época. A maior diferença é que agora é impossível manter em segredo qualquer coisa, porque há muita informação em torno de um filme mesmo antes de alguém vê-lo. Até roteiros são publicados online antes do lançamento.

Em 1977, apenas alguns milhares de pessoas tinham ouvido falar de Star Wars quando chegou pela primeira vez nos cinemas, mas espalhou-se rapidamente e logo havia filas em toda parte. Hoje em dia você nunca iria ver isso porque todo mundo entra na primeira exibição que queiram entrar, mesmo se o filme está indo muito bem. Naquela época, um filme poderia ser exibido em apenas alguns cinemas por todo o país. Quando eu morava em Nova York costumávamos dirigir ao redor da cidade e ver se havia alguma fila para o último [Ingmar] Bergman. Se não havia ninguém do lado de fora você se perguntava se o filme não era bom."

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